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Jogos de Prazer — Vol. I — N.º 40
«Ler a poesia de Virgílio de Lemos é simultaneamente ler uma época, do tempo colonial em Moçambique, de uma geração de artistas em movimento de contestação, revisitando-se ambientes marginais da cidade, um quadro de ‘personagens’ e acontecimentos, que tiveram lugar nas décadas de 50 e 60, e que a sua poesia, de forma destruidora-renovadora, traz ao leitor. A partir de 1963, a sua errância-exílio vai fazê-lo viajar o mundo, real e literário, em geografia de roteiros múltiplos, Paris, Barcelona, Índia, Brasil, Cuba, Itália, Lisboa, numa procura da ilha esplendorosa, evocação redundantemente solfejada e matricial, da simbólica ilha em que nasceu, a ilha do Ibo, que é, também, em simultâneo, todas as ilhas moçambicanas, pontos de fuga e acolhimento, Quirimbas, ilha de Moçambique. Ler a poesia de Virgílio é também reconhecer o seu papel inovador, transformador, na poesia da sua terra natal, Moçambique. A vertigem antropofágica dos poemas decorrentes de Msaho contribui para fazer da década de 50 uma época em que o modernismo, a exemplo dos brasileiros, ganha uma dimensão transgressora e revolucionária, através da desconstrução da linguagem, da denúncia da opressão, e verifica-se que o erotismo e a energia da combinação insólita de imagens, surrealizante, assumem um fundamental papel iconoclasta e libertário.»
Ana Mafalda Leite
Organização e prefácio de Ana Mafalda Leite.
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