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Da Liberdade Necessária e Outros Textos
«Como fazer compreender que a crítica da liberdade foi demasiado fundo? Como fazer compreender que ela atingiu, com a liberdade fundamental, a própria essência do pensamento e da vida coisa nunca vista desde que surgiram os profetas judeus e os filósofos gregos, grandes promotores da liberdade? A facilidade da crítica de tantos homens, e alguns notáveis, provém sempre de um erro que pode exprimir-se nestes termos: supor dado o pensamento, supor a vida, e admitir depois (ou não admitir) a liberdade como resultante, como algo que se lhes acrescente. Já sou homem, já penso e agora vou discutir sobre se a liberdade é ou não é e se ela existe ou não existe. Isso é alguma coisa como dizer: já existo e já respiro e vou agora tratar de saber se existem ou não existe o meu corpo e os meus pulmões. Noutros termos: confunde-se a liberdade essencial com a manifestação da liberdade, a liberdade ontológica com a liberdade ético-política. Supõe-se que a liberdade é um simples conceito e mera construção do homem, como se o homem pudesse conceber e construir algo de novo sem garantia no seu próprio ser. Ora de que eu chame pulmão ao que em mim respira, memória ao que incessantemente ressitue o ser no passado ou o passado no ser que estou sendo, não se segue que eu tenha criado o pulmão e a respiração ou que a memória seja uma criação do meu querer inteligente. Limito-me simplesmente a encontrar-me com alguma coisa, a concebê-la e a dar-lhe um nome. (...)». In (Trecho de Da crítica da liberdade, in Estudo sobre a Liberdade)
Edição de Jorge Croce Rivera, professor da Universidade de Évora, responsável pela organização do espólio de José Marinho, doado pela família em 1981 à Biblioteca Nacional de Portugal, integrando actualmente o Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea.
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