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Os Putos — Contos da Luz e das Sombras
Faz agora meio século que este livro nasceu e foi crescendo ao ritmo generoso das reedições, suportando airosamente os desgastes do tempo. Chamava-se Sardinhas e Lua nas suas origens — 1964 — e reapareceu a partir de 1973 com o título definitivo.
Era já um grosso volume quando, em 1995, resolvi dar às suas numerosas histórias uma arrumação que respeitasse a sequência em que tinham aparecido, enquadrando-as nas estações da minha própria vida. Por isso, os contos publicados na juventude constituem Os Putos da Primavera, os da idade madura compõem Os Putos do Verão, os da barbicha a agrisalhar correspondem a Os Putos do Outono, enfim, os da velhice são naturalmente Os Putos do Inverno.
Há n’Os Putos tanto de mim que, se quisesse autobiografar-me, o primeiro dos seus 153 contos, escrito quando moço, era um excelente começo, enquanto o último, escrito já na velhice, seria o epílogo perfeito.
Fez-me bem escrever este livro, conto a conto, na incerta caminhada entre o berço e o túmulo, porque dei por mim a sublimar, pelo ato transfigurador da criação literária, dificuldades de sobrevivência e fastios existenciais que, de contrário, exigiriam um estoicismo superior àquilo de que sou capaz para serem toleráveis. Na verdade, embora desejando que Os Putos fizessem doer a consciência tão cruelmente como os vivi, quis também que arrebatassem a imaginação tão magicamente como os sonhei. O facto de continuarem a ser lidos, meio século decorrido, permite concluir que da semente dos meus propósitos germinou boa árvore.
29.ª edição, revista e aumentada.
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