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Futebol ao Sol e À Sombra
De quatro em quatro anos, por altura do Mundial, fechava-se em casa durante um mês e pregava na porta um aviso: «Fechado por motivo de futebol.» Adepto fervoroso, Eduardo Galeano não tinha toque de bola; desastrado com os pés, serviu-se das mãos para fazer uma das mais belas odes à «grande missa pagã», esse espectáculo «capaz de falar tantas línguas e de desencadear paixões universais». Nas suas inconfundíveis vinhetas poéticas e contundentes, entram em campo lendas e mal-amados – de Garrincha a Beckenbauer, de Puskás a Maradona –, bem como episódios infames da modalidade – como o dos jogadores ucranianos que, em plena ocupação nazi, na mira dos fuzileiros, não resistiram à tentação de vencer a equipa alemã. Futebol ao Sol e à Sombra (em edição actualizada por Galeano, pouco antes de morrer, em 2015), enciclopédia emocional do desporto-rei, epopeia das suas origens, mutações e superstições, é também uma aula de história dentro das quatro linhas – um resumo alargado do século XX, passando em revista as vitórias e derrotas da humanidade, o pé-em-riste dos poderosos, os negócios apanhados em fora-de-jogo e a desforra dos povos que lutam pela manutenção.
Tradução de Helena Pitta.